quarta-feira, 13 de julho de 2011

Parabéns aos 200 anos da minha Bagé

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 12 de julho de 2011

Discurso de Rui Barbosa sobre a desigualdade

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem. Esta blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria proclamada em nome dos direitos do trabalho; e, executada, não faria senão inaugurar, em vez da supremacia do trabalho, a organização da miséria. Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. (apud HELVESLEY, José. Revista Esmafe: Escola de Magistratura Federal da 5ª Região, n. 7, ago. 2004)

domingo, 10 de julho de 2011

Dominação legal

Sempre desconfio das atitudes que se afastam do que considero ideal, ou seja, o equilibrio.
Quando vejo bandeiras se levantarem com tanta obstinação em defesa de algum grupo, antevejo argumentos sem sustentação, unilateral e sem visão do todo. Mas isso é café pequeno perto do que pode ser muito pior, ficar refém de intereseiros que vivem "da" politica e não "para" a politica.
Acho que sou meio pessimista, não vejo sentimentos elevados no fato de acharem que um grupo ou seguimento da sociedade deva ser tratado com previlégios, sendo que muitos outros sofrem as mesma discriminações e preconceitos, privações de direitos. E nossos politicos que vivem avidos de sangue fresco como morcegos ao cair da noite, lançam campanhas que visam tão somente o próprio beneficio. Isso nada mais é do que violência legitima.

Mudança de Valores

sábado, 9 de julho de 2011

Palavras
Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com a sua flauta de couro. O grilo feridava o silêncio. Os moradores do lugar se queixavam do grilo. Veio um apalavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram de debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.
Manoel de Barros